terça-feira, 9 de dezembro de 2025

F-1 2025: Balancete final

 

Uma temporada tão longa quanto a que acabamos de assistir demanda uma reflexão calma para que se obtenha algum tipo de conclusão em relação aos vencedores ou perdedores. Lando Norris campeão, resta saber se vai ser um campeão múltiplo ou um piloto que agarrou com unhas e dentes a talvez sua única oportunidade, ainda que em detrimento de seu companheiro de equipe e impulsionado (favorecido) por táticas de sua equipe. Mesmo não sendo um Lance Stroll, cujo pai comprou-lhe uma equipe de Formula 1, é inegável que Lando seja o queridinho do manda chuvas da Mclaren, Zack Brown. Talvez pelo tempo que esteja na equipe (desde 2019), talvez pelo poder financeiro da família Norris, quiçá por alguma afinidade pessoal. O fato é que, indiscutivelmente, Lando é um bom piloto. Rápido, comete poucos erros e, principalmente, admite suas eventuais fraquezas de teor psicológico, o que eu considero louvável.

Eu já escrevi aqui que, a despeito do que os críticos de sofá digam, os atuais pilotos de Formula 1 têm uma qualidade altíssima, pois a telemetria não mente e dominar os bólidos com tão pouca distância de tempo entre eles é para poucos. Portanto, de Colapinto para cima (eu o cito apenas por ser o único, além de Doohan a não pontuar - mas é um bom piloto), os atuais integrantes do grid são pilotos altamente capazes e talentosos.



Max Verstappen é, obviamente, fora da curva. Suas qualidades aliadas a sua precocidade fazem dele um  demolidor de recordes, tanto em termos de títulos ( sete para cada, Hamilton e Schumacher - Max aos vinte e oito anos de idade tem "meros" quatro!) quanto de vitórias (incríveis 105 de Lewis). Seu ano foi excelente e, mesmo quando estava a mais de cem pontos atrás na tabela do campeonato, sua competitividade e resiliência mostraram o seu melhor. 

Oscar Piastri termina o ano com uma inegável sensação de "poderia mais", a tal ponto que em determinada altura do campeonato, sua vitória parecia ser favas contadas. Ajudado e muito pela lassidão de sua equipe que, não me venham com blá blá blá, favoreceu seu companheiro (a situação de Monza foi patética, pois após um pit stop desastroso da Mclaren com o carro de Norris, Piastri o ultrapassou e teve que devolver a posição na pista, custando pontos preciosos e, principalmente, uma inegável ranhura em sua auto confiança. Se meu próprio time me faz favorecer outro piloto, ainda que este seja meu companheiro de esquadra, com quem posso contar?). Oscar é um piloto veloz, frio, eficiente e, se seu companheiro de equipe fosse outro seria certamente, também, campeão mundial de 2025. Eu lamento a decisão da equipe Mclaren em interferir nos resultados do campeonato, mas não foi a primeira e, provavelmente não será a última vez que o campeão é definido pelos cartolas.

Os demais? Vamos lá: George Russell - ano sólido, liderou a equipe Mercedes com autoridade e obteve duas vitórias, o que lhe era possível dentro das circunstâncias. A ponto da equipe não sentir saudades de seu golden boy, Lewis Hamilton. Seu companheiro, o jovem novato Andrea Kimi Antonelli, alternou bons desempenhos com atuações irregulares ao longo do ano. Seu erro desastroso na penultima etapa do campeonato no Qatar, onde após resistir bravamente  durante dez voltas aos ataques de Lando Norris, escorregou numa curva, entregando de bandeija a quarta posição ao inglês e, esses dois pontinhos foram decisivos para a conquista do campeonato. Os adeptos da teoria da conspiração acham que foi uma manobra deliberada e, devo confessar, eu tenho sérias dúvidas. Óbviamente, se a ultrapassagem não houvesse sido consumada, na última prova a Mclaren faria o Piastri parar na pista para que Lando o ultrapassasse e ficasse com o título de qualquer maneira. Mas, foi chato demais esse "Timo Glock" revival!

Charles Leclerc nao ganhou nenhuma corrida e obteve apenas uma pole position, mas dominou amplamente seu badalado e caro companheiro de equipe, o sete vezes campeão Lewis Hamilton. Este, teve um ano frustrante e, pela primeira vez na carreira não subiu ao pódio durante toda uma temporada. Não dá para tirar conclusões precipitadas. Lewis foi e é um grande campeão, e sim, sempre dispôs dos melhores equipamentos, e, quando não, suas atuações não foram estrelares. Mesmo assim, adaptar-se à cultura da Ferrari é uma das coisas mais difíceis e temos uma longa lista de campeões que passaram por lá e não foram capazes de encantar os tiffosi.

A equipe Williams teve um ano bastante digno, inicialmente com o bom Alexander Albon e, após um início titubeante, o sólido Carlos Sainz que foi capaz de obter dois terceiros lugares para o time levando-o novamente ao pódio. As perspectivas são boas para a próxima temporada, uma vez que, aparentemente, a equipe começou a desenvolver seu novo carro para o novo regulamente bem cedo e os resultados podem surpreender. Tem boa estrutura e dois bons pilotos. Veremos.

Se a Williams foi uma boa surpresa, o mesmo não se pode dizer da Aston Martin. Seus desempenhos oscilaram bastante e os pontos conquistados foram mais em decorrência da boa qualidade em corridas de seu principal piloto, a estrela Fernando Alonso. Lance Stroll alternou boas apresentações com corridas patéticas, como é de seu feitio. A contratação do gênio Adrian Newey é uma ótima perspectiva para a equipe, mas talvez o tempo de Alonso já tenha passado e eu não consigo ver Stroll como um piloto capaz de vencer corridas e campeonatos. Talvez a eventual contratação de Piastri, claramente sem espaço na Mclaren seja a solução para a Aston Martin, uma vez que não existem agentes 007 na vida real.

Nico Hulkenberg é aquele funcionário sólido, que não falta, não fica doente, com quem se pode contar sempre. Fez um bom campeonato e marcou bons pontos para a equipe Sauber, que vinha de um ano desastroso. Gabriel Bortoleto é claramente talentoso, mas seu ano de estreia deixou a desejar, gostem ou não seu fãs brasileiros. Começou timidamente, demorou para encontrar velocidade, conquistou alguns pontos e teve desempenho pífio no Brasil e no Qatar. Não vou passar pano aqui pois fatos são fatos. E o fato é que, se repetir esse desempenho, não terá lugar no grid em 2027. Mas, como eu disse antes, talento ele tem, resta canalizar e obter os resultados que pode e deve.

A seguir duas boas surpresas do ano: Isaak Hadjar, em minha opinião o melhor estreante do ano e Oliver Bearman, com enorme potencial. a Equipe Racing Bulls entregou um carro decente e seus dois pilotos tiveram boas atuações e muitos pontos. A destacar a recuperação psicológica do Liam Lawson, que após apenas duas corridas como companheiro de Max Verstappen na equipe Red Bull foi demovido para a equipe B. Um piloto menos capaz teria desmoronado de vez, mas Lawson conseguiu reerguer-se e mostrou seu valor. Méritos a ele. o companheiro de Bearman na Haas, Esteban Ocon, já é piloto estabelecido e, se lhe derem um bom carro irá obter ótimos resultados. Só desconfio que ele não contava com a velocidade do novato britânico que o ofuscou em diversas ocasiões.

Yuki Tsunoda foi a infeliz vítima da síndrome do segundo carro da Red Bull e fica difícil defender o diminuto japonês pelas atuações que ele teve pela equipe. Suas performances no ano anterior na equipe B, no entanto, mostraram um piloto veloz e  competente, mas o fato de ser apoiado integralmente pela Honda e esta estar de saída da equipe não ajudaram em sua permanência e ele foi o único piloto a não continuar na F1 para a próxima temporada.

E por último, a desastrosa temporada da equipe Alpine, cuja falta de potência dos sub desenvolvidos motores Renault era evidente. Pierre Gasly é um bom piloto, acima da média, e foi capaz de  conquistar 22 pontos para a equipe. Quanto a Franco Colapinto, é um bom piloto, mas sua permanência na máxima é única e exclusivamente por causa dos soldos de seus patrocinadores e o temperamento singular de Flavio Briatore. Tendo subido de categorias com muita rapidez, Colapinto não parece ser capaz de emular os resultados de pilotos precoces antes dele, tais como Kimi Raikkonen e o próprio Max Verstappen. Queimar etapas é sempre perigoso e, resultados na pista não mostram o porquê de Colapinto ter mantido seu assento na categoria. 



De qualquer maneira, acaba uma temporada, fazemos balanço, mas nossas mentes já estão sintonizadas no que há por vir. Farei outro texto sobre isso em breve. Até mais!











quinta-feira, 13 de novembro de 2025

Quem se arrisca numa viagem do tempo?

 De vez em quando me deparo com fotos antigas, geralmente em preto e branco, de corridas, carros ou pilotos do passado. Da época em que eu, menino, ainda não tinha consciência do enorme peso que o automobilismo iria ter em minha vida. Devaneios de um idoso, quiçá, mas me divirto em forçar a minha memória a trabalhar a fundo. Quem são os pilotos da foto abaixo? A única dica que dou é que estão sete campeonatos mundiais nesse quadro!



quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Repassando: pílulas do GP São Paulo de domingo passado

 



Faz tempo que não faço comentários sobre corridas aqui ou mesmo no meu canal do youtube. Mas já estava sentindo saudades, portanto, vamos lá:

Atuação dos pilotos:

Norris - apesar de toda as controvérsias e da teoria da  conspiração de que estaria sendo beneficiado pela equipe em detrimento de seu companheiro (entre os quais eu subscrevo, mas falarei disso mais adiante), fez duas grandes corridas, sem erros e com pinta de  campeão. Sem muito carisma, a bem da verdade, mas isso é subjetivo e não tira o brilho de suas últimas atuações. Parece que as supostas questões de fragilidade mental foram superadas e sua atitude de recuperação foi louvável.

Antonelli - Boa surpresa esse italianinho destinado a grandes coisas no futuro. Protegido de Toto Wolf, Kimi teve um começo auspicioso, uma certa queda de rendimento no final da fase européia, mas recuperou seu brilho de algumas etapas  para cá e vem mostrando que é o futuro da  Mercedes. Com a tenra idade de 19 anos, segurar as investidas de um inspirado tetra campeão com sucesso não é para qualquer um. Duas excelentes corridas no templo Interlagos!

Max - Muito já se escreveu sobre esse verdadeiro fenômeno. Goste-se ou não do holandês nascido na Bélgica, com conexões tupiniquins, o cara é fora da curva. No ano passado já havia feito corrida memorável, largando lá atrás (16º) e vencendo, ajudado pela chuva que lhe favorece o talento. Este ano largou do pit lane e chegou em terceiro, que poderia ter facilmente sido um segundo, não houvesse um inspirado bambino a defender-se ferrenhamente.

Russell- Boas atuações, parece estar um tanto incomodado pela recente forma de seu jovem companheiro de equipe, Antonelli. Considero Russell um grande piloto, inclusive tem duas vitórias nessa temporada, mas prevejo uma certa tensão entre os pilotos Mercedes em função do mesmo problema que afeta hoje a Mclaren e tantas outras esquadras no passado: quem é o primeiro piloto? Por enquanto a Mercedes aposta na experiencia de George, mas isso pode mudar, pois é fato que Toto nutre um carinho quase paterno por Kimi.

Piastri- Oscar, Oscar, Oscar... o que houve meu camarada? Até há pouquíssimas rodadas o título mundial parecia ser apenas uma questão de tempo, uma merda formalidade. De repente, o bolo desandou, arruinou, a coisa está feia. Em minha modestíssima opinião, parece claro para o grupo Mclaren que o título seria melhor, em termos comerciais, de investimento, ligações de bastidores nas mãos de um piloto britânico, campeão das redes sociais, queridinho do jet set e que vem remando faz tempo pela equipe. Oscar parecia ser o mais equilibrado dos dois, com uma atitude quase blasé quando vencia e dominava, típico, talvez dos australianos. De Monza para cá parece ter perdido a boa forma e sua atitude despondente após a prova de Interlagos não poderia ser mais reveladora.

Ollie- Todos os méritos para esse jovem prodígio que vem extraindo um desempenho extraordinário da sua modesta monta, a Haas. Sem ter tido uma carreira expressiva na Formula 2 do ano passado, inclusive tendo sido companheiro de esquadra de Antonelli, sua ascensão à máxima foi encarada com certas reservas por muitos (novamente me incluo nesse inglório rol de céticos). Mas o garoto vem fazendo corridas de gente grande ao longo do ano e é certamente uma certeza  para o futuro. A Ferrari que o vem nutrindo há tempos está com bons cacifes em mãos (e eu me atrevo a dizer que também há um certo pernambucaninho na mira dos Rossos, Rafa Câmara - falou aqui o torcedor e também alguém que já se acostumou a diagnosticar talentos precoces).

Lawson- Liam é um daqueles pilotos, não sei exatamente por que razão, que mesmo que ganhe o mundial invicto duas vezes ainda terá críticos e pessoas céticas em relação ao seu talento. Uma mente mais frágil, após ser humilhado e rebaixado da equipe principal da Red Bull no inicio do ano, após apenas duas rodadas, teria se encolhido e sumido. Mas Lawson não se deixou intimidar e, apesar de ter um companheiro de equipe talentoso em  Issac Hadjar, vem fazendo seu trabalho de forma honesta e digna. Ainda assim, há muitos que cravam que ele não permanecerá na Formula 1 na temporada de 2026, o que, em minha opinião seria injusto.

Hadjar- Sem dúvidas, uma das grandes revelações do ano, especialmente por achar que ele era espaventado e esquentado, a medir por sua temporada na F 2 no ano passado, onde cometeu muitos erros de precipitação. Foi amplamente batido pelo nosso Bortoleto e eu achava que sua promoção havia sido errônea. Confesso que devo me retratar, pois provou que merece seu lugar e tem inclusive, em sua temporada de estreia um pódio! Em Interlagos, no entanto, mostrou certa dificuldade de adaptação as ondulações da pista e foi batido pelo companheiro de equipe, Lawson. Ainda tem crédito, no entanto.

Hulkenberg- Um veterano casca grossa que se renova a cada ano e encara o oficio de piloto de Formula 1 com muito profissionalismo e seriedade, além da óbvia competência. Nico fez sólida corrida e é um dos responsáveis pelo sensível melhora da equipe Sauber em relação ao ano passado.

Gasly- o simpático bretão, é sem dúvida um daqueles casos em que ficamos na dúvida: e se ele tivesse um carro de ponta nas mãos? Sempre extraindo o máximo de seu equipamento, Pierre é um piloto sólido e confiável. Beliscou dois pontinhos impossíveis em Interlagos, minimizando o calvário da equipe do cafajeste Briatore.




Dos demais, destaques negativos para os pilotos Ferrari (pobre Leclerc), um Ocon meio perdido, um pobre Tsunoda, Albon e Sainz perdidos nas equivocadas estratégias da equipe Williams,  um Alonso combativo e como sempre, remando, remando, para morrer afogado na praia, um Stroll, Stroll, e por fim, o nosso Gabriel Bortoleto. Se eu acreditasse em bruxarias, mandingas ou coisas do tipo, sem dúvida essa seria a ocasião perfeita para confirmar minhas crenças. A maldição das péssimas estréias dos pilotos brasileiros correndo em casa pela primeira vez (com a notável exceção de Emerson que venceu em 73) se confirmou. Gabriel é bom piloto, ainda que eu não anteveja nele o messias, o próximo Senna ou Piquet. Seguro, veloz, interessado em aprender os meandros técnicos, vem fazendo uma temporada razoável. Mas sua atuação em Interlagos, em frente ao público sedento por um novo ídolo foi realmente muito sofrível. Quem faltou? Ah, sim, o Franco Colapinto. Acho o simpático argentino um bom piloto, mas até o momento apenas consigo vê-lo como um pay driver que só segura o seu lugar em virtude da verba que traz para a combalida equipe Alpine. Motivo de muito oba oba por parte dos passionais torcedores argentinos, Franco está devendo e muito. Como renovou seu contrato para o ano que vem, imaginei que estaria mais sereno, mas me enganei: cometeu os mesmos erros de afobação que prejudicam suas atuações quase sempre. Oxalá consiga acertar sua cabeça, pois velocidade ele tem de sobra.

De qualquer maneira, Interlagos proporcionou, como sempre, uma das melhores etapas do mundial e agora, na reta final, onde só falta carimbar o certificado de campeão para Norris, uma surpresa seria uma tardia reação de Piastri, aparentemente cabisbaixo e vencido pelo peso de ser um solitário contra um sistema. Poucos conseguiram reverter a preferencia tão nítida de uma equipe por um outro companheiro, não é mesmo Nelson Piquet? Esse sim, contra tudo e quase todos, conseguiu. Oxalá Piastri me surpreenda positivamente! E nunca descartem Max...


terça-feira, 11 de novembro de 2025

 Voltando devagarinho.



Posso afirmar sem dúvidas, que o blog foi o meu primeiro amor na internet. Esse aqui, em particular, cuja primeira postagem foi pelos idos de março de 2009. Bons tempos e logo, com o entusiasmo quase juvenil de um principiante, muitos posts, se destacou. Ganhamos, antes de completar um ano de existência, o troféu de segundo prêmio entre blogs de esporte. Foi uma bela e agradável surpresa. Depois disso, procurei corresponder às expectativas com postagens originais, sempre mantendo minha independência de opinião e valores. 

Com o tempo, novas obrigações, dois empregos, um canal no Youtube (muitas vezes com publicações cruzadas) que também me deu bastante alegria, as postagens foram ficando mais raras e esparsas. Esse ano de 2025 têm sido particularmente difícil para mim, vou poupá-los dos detalhes, mas realmente não está sendo fácil. Mesmo assim, esses dias, ruminando com meus proverbiais botões, pensei: preciso reviver o meu blog. Sim, o blog que me proporcionava muitas alegrias e que foi injustamente esquecido por mim. Não prometo postagens diárias, nem mesmo semanais, mas prometo ter mais  carinho com esse cantinho aqui de agora em diante! E, como dica, tem umas histórias interessantes aqui no cantinho direito, lá do arco da velha, como por exemplo minha saga ao ir para a Inglaterra nos anos 80 para tentar conquistar um lugarzinho ao Sol no mundo do automobilismo. Vamos que vamos!

segunda-feira, 14 de novembro de 2022

 


Quando caem as máscaras

 

Não importa o que eu ou você pensemos, ou achamos, ou lacramos. Fatos, e isso é elementar, meu caro Watson! E os fatos a que me refiro: Lewis Hamilton ainda é o melhor piloto em atividade, apesar da recente forma “rolo compressor” de Max Verstappen. Eu me refiro ao pacote completo: currículo, trajetória, caráter. Obviamente já critiquei Hamilton no passado por alguns posicionamentos extra pista, sempre deixando claro que minha opinião é subjetiva e ele é grandinho e, portanto, responsável por seus atos e declarações. Também já o critiquei em alguns entreveros em pista, notadamente Silverstone 2021, onde acho que ele se excedeu. Também critiquei uma certa benevolência dos fiscais e dirigentes em relação às punições mais brandas aplicadas a ele em comparação.

Agora ontem, ele teve uma atuação e uma postura digna de um campeão. Recebido com festa (justificada) no nosso país como um grande campeão (o que de fato é), portou-se com galhardia fora e dentro da pista. Se fora dela, mostrou paciência e solicitude com seus muitos fãs, dentro dela, ao “comboiar” seu jovem companheiro de equipe naquilo que seria a primeira vitória da equipe no ano (e com dobradinha para coroar o final de semana), mostrou comedimento e generosidade ímpares. E olha que estamos falando de vitória, que lhe ilude há mais de um ano, fato inédito em sua incrível carreira.

Indesculpável, portanto, a atitude egoísta e grosseira do mimado holandês Verstappen, que ao não pensar na equipe deixou seu companheiro Sergio Perez atrás de si na disputa de um glorioso (!!) sexto lugar, mas que representaria um pontinho a mais para o mexicano na renhida disputa pelo vice-campeonato com o monegasco Leclerc da Ferrari. A equipe Red Bull jamais logrou fazer um campeão mundial e um vice na mesma temporada e essa seria a coroação perfeita da temporada. Quais as razões que fazem um piloto declinar ajuda a um companheiro de equipe, que tanto o ajudou no passado, diga-se de passagem, e que já tem o campeonato fechado e lacrado para si? Não tenho resposta a essa questão.

Faço paralelos a alguns pilotos que assisti e que não faziam questão de serem simpáticos com o publico e com seus companheiros de equipe. Descontando-se a natural tendência ao egoísmo extremo que faz parte do DNA de quase todos os campeões, lembro-me da semisselvagem disputa em Senna e Prost, companheiros de equipe, mas disputando o título prova a prova, roda a roda. E a infeliz política de “boa vizinhança” promovida pela Williams em 86 e 87, que resultou da perda de um campeonato certo e líquido por ambos os pilotos, Piquet e Mansell que preferiram se destruir nas pistas favorecendo um narigudo e sagaz Prost da McLaren. Mas, novamente, ambos estavam disputando o título.  E, claro, lembro-me da infeliz temporada de 1973 onde Emerson Fittipaldi ganhou três das quatro primeiras provas, e depois a equipe privilegiou seu talentoso e rápido companheiro Ronnie Peterson, jogando o título de pilotos no colo de Jackie Stewart. Nesse caso, foi burrice de Colin Chapman que não soube valorizar seu campeão mundial e claramente, investiu errado, perdendo o furioso piloto brasileiro que se mudou de mala e cuia para a McLaren para vencer ali o primeiro dos muitos títulos da escuderia.

Tivemos os casos da Ferrari onde sua majestade Michael Schumacher sempre esmagava esportiva e politicamente seus segundos pilotos (Irvine, Barrichello e mesmo Masssa), escolhidos a dedo para serem escudeiros. Caso aliás, parecido com o de Checo Perez, que ninguém levou a sério após a corrida de Mônaco este ano, vencida por ele que declarou estar na “disputa” pelo título. Todos sabíamos que Verstappen era mais talentoso, mais importante para a equipe, incontestável número 1 e o brilhareco do simpático mexicano não passaria de um “flash in the pan”, como dizem os ingleses. Mesmo assim, com um carro foguete nas mãos, algumas boas atuações, uma Ferrari pateticamente errática, os problemas da Mercedes, fizeram com que a Red Bull tivesse chances reais de cravar campeão e vice. Sem stress. Exceto pelo ego gigantesco de nosso amigo dos países (e golpes) baixos.

Veremos a conclusão dessa novela inacabada daqui a menos de duas semanas no encerramento do campeonato em Abu Dhabi. De qualquer forma, a meus humildes olhos de ancião, Hamilton saiu grande e Verstappen minúsculo de Interlagos!